terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O Pedágio da Solidariedade

A solidariedade, por si só, não tem possibilidades de transformar os paradigmas da sociedade capitalista. O desejo de superar os problemas existentes no capitalismo não se dará por meio da força da solidariedade, e, sim, por meio de uma reforma social e educacional honesta em tentar remediar os efeitos alienantes e desumanizantes do "poder do dinheiro" e da "busca do lucro". Hoje em dia, é difícil mudar o padrão de um corpo social, pois tudo está baseado no dinheiro. As grandes potências capitalistas, como os EUA, só querem o próprio bem, que sua economia seja a maior, não se importando com a poluição do ar ou de invasões e matanças de pessoas por causa de alguns barris de petróleo.
O mundo deveria ter uma distribuição igualitária da riqueza social, em que não houvesse propriedades privadas, para que todos os indivíduos tivessem as mesmas oportunidades e condições de vida. O socialismo que nasceu no século XVIII prega a igualdade entre todos, em termos social, político, e jurídico. Este modo de governar também é mediante práticas democráticas, em que todos os cidadãos têm o direito de expressar-se livremente. Junto com essa idéia de humanidade coletiva igualitária, surge do fundo medieval uma burguesia fortalecida pela revolução industrial e francesa, que pregava "liberdade, igualdade e fraternidade", mas que, na verdade, só olhava para o próprio umbigo, querendo dinheiro e mais dinheiro, não se importando com o próximo, horas e condições de trabalho desumanas.
A maioria das pessoas foram construídas egocêntricas, ou seja, só pensam no próprio bolso. Esta egolatria faz com que a sociedade seja desigual, consumista, longe "da verdade que liberta o homem da opressão, da ignorância, do domínio da natureza, e sobretudo da escravidão humana" (FREIRE, Paulo - conscientização, pág. 78).
Não podemos enxergar a solidariedade apenas como "um" dar esmolas, mas sim conscientizar-se da presença dos problemas e da dor dos nossos semelhantes, e também participar da luta das pessoas oprimidas pela sociedade. A solidariedade dominante é a dos ricos, pois não liberta as pessoas da opressão, pratica esmolas como forma de purgar seus pecados, como um pedágio da solidariedade.
"O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na transformação da realidade e de sua própria capacidade para transformá-la" (FREIRE, Paulo - Conscientização, pág. 40). O ser humano precisa enxergar além de si, ver a miséria do continente africano, latino-americano em que a média da perspectiva de vida é muito baixa. As pessoas carecem de amor, carinho, amizade, solidariedade e não só de dinheiro, comida e água, mas, também, de diversão e arte, querem prazer para aliviar a dor, querem felicidade.
No jeito capitalista de ser da sociedade, a solidariedade atende as pessoas excluídas, como os velhos, crianças, miseráveis, mas não consegue mudar o modo da sociedade do lucro escravizar as pessoas. Elas deveriam ser iguais, sem existir o rico e o pobre. Um ato solidário não é só dar esmolas e, sim, ajudar seus semelhantes. Os oprimidos não querem só comida e água, necessitam também de diversão, arte, amor, carinho.

Um comentário:

Vini M. disse...

Outro grande texto. Pois é, por mais que se fale o mundo continuará egoísta. O bem que a maioria procura é o dinheiro e o consumismo só aumenta. Ninguém quer viver com pouco. E a felicidade está em quantos bens tem. Olha, isso é uma ignorância. Mas é bom saber que alguns ainda pensa no bem social, numa justiça entre todos sem haver privilégios para alguns. Mas a sociedade é assim, por mais que critiquemos, as coisas não mudam. Como disse um amigo meu, temos que fazer uma revolução diária. Muito bom este texto. Abraço Bruno!